Matéria publicada no jornal O Dia.
Coronel Paulo Lopes: 'Foi como levar um tiro fatal'
PM desabafa e revela que já tinha avisado o filho que não o protegeria se um dia cometesse um crime
Rio - O Coronel PM reformado Paulo Cesar Lopes não esconde a revolta e a tristeza com a prisão do filho. Acostumado as ameaças de morte, está diante da situação mais delicada que já enfrentou. A prisão de Paulo Olímpio Lopes em flagrante “foi como levar um tiro fatal”, descreve o coronel. Na sua carreira, não faltam episódios de represália às suas ações contra maus policiais. Em 2005, no 15º BPM (Caxias), dois homens foram mortos e suas cabeças, jogadas no batalhão. Na época, investigava mais de 100 PMs com suspeita de enriquecimento ilícito. No 14º BPM (Bangu), transferiu, ao todo, 300 PMs em 2001 e 2007.
O coronel Paulo Lopes repete várias vezes que foi um bom pai: ele financiou a faculdade, montou negócio para o filho e paga a escola da filha dele, de 5 anos | Foto: Carlos Wrede / Agência O Dia
O DIA: Por que o senhor não foi à delegacia após saber da prisão de seu filho?
Coronel Paulo César Lopes: – Não fui e nem irei. Tenho certeza que não falhei como pai. Sempre dei assistência material, intelectual e afetiva. Cumpri meu dever de pai e não passarei a mão na cabeça dele. Se quer roubar, ser assaltante, então vai ter que assumir as consequências. Ano passado, ele se formou em Gastronomia. Foi um curso caro e custeado por mim. Logo depois, recebeu um convite para trabalhar embarcado, mas não aceitou. Disse que preferia abrir um negócio e o ajudei com tudo que precisava para montar a empresa. Ele estava trabalhando, fornecendo refeições em domicílio. Teve todas as oportunidades para se tornar um cidadão de bem.
O DIA: Como soube da prisão de seu filho? Foi ele quem ligou para o senhor?
Coronel Paulo César Lopes: Não. Sempre o avisei que se um dia fosse preso não era para me ligar e ele não ligou. Pelo menos isso aprendeu. Fui acordado às 9h por um repórter e disse a ele o mesmo que repito agora: ‘Se meu filho quer ser bandido, então que assuma as consequências. Já é suficiente ter manchado meu nome’. Ele teve boas escolas, acesso à cultura. Teve de tudo e o que fez mostra o quão mau caráter ele é. Escolheu seguir por essa vida.
O DIA: Como pai como se sente vivendo uma situação como essa?
Coronel Paulo César Lopes: Estou sofrendo muito, mas tenho a minha consciência tranquila porque sei que a falha foi só dele. Falhou por não ter ouvido a orientação do pai. Sempre falei para ele que se um dia cometesse um crime não teria meu apoio presencial. Como pai, não consigo me omitir, vou proporcionar os recursos para sua defesa, mas como coronel não moverei uma palha. É muito triste saber que o meu filho pode ter se tornado o que sempre combati dentro e fora da polícia: bandido. Foi como levar um tiro fatal.
O DIA: Já falou com seu filho após a prisão?
Coronel Paulo César Lopes: Não. Ele sabe que foi desleal comigo. Sabe que o amo e do desgosto que está me dando. Se ele tiver o mínimo de vergonha na cara, não vai ligar nem para me pedir desculpa.
O DIA: Alguma vez desconfiou que seu filho estivesse envolvido em assaltos? Ele é viciado em drogas?
Coronel Paulo César Lopes: Nunca. Ele sabe que eu mesmo o prendo se souber que cometeu um crime. E se fosse na minha frente, era capaz até mesmo de lhe dar um tiro.Nunca notei comportamento estranho, se usava alguma coisa (droga). Ele é extremamente carinhoso.
O DIA: O Meriva usado no assalto era roubado. Alguma vez viu seu filho com o carro?
Coronel Paulo César Lopes: Não. Ele tinha uma moto que eu comprei em 36 vezes e ainda estou pagando. Cumpri meu papel de pai, e ainda pago a escola da filha dele, de 5 anos. Se tenho inimigos na PM é porque a maioria dos policiais estão contaminados e sempre combati os maus policiais. Se meu filho também está contaminado, lamento, mas não posso ser sacrificado pelos erros dele. Quantos pais não passam pelo que estou passando? Mas como é o filho do coronel Lopes, estão se aproveitando. Além de estarem tentando arranhar minha reputação, me preocupo de que o acusem de vários outros crimes. Quero apenas que tenha uma pena justa.